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Suivante

 

 

dezembro de 1999

Especialistas dão atendimento a homens violentos
 http://www.estado.com.br/edicao/pano/99/12/04/ger660.html 

Iniciativa permite que violência familiar e agressividade sejam discutidas em grupo

LÍGIA FORMENTI

Uma nova tática para combater a violência familiar começa a ser adotada por grupos especializados: o atendimento a agressores. Os homens violentos estão encontrando espaço para conversar e analisar os motivos de seu comportamento agressivo, assim como formas de contorná-lo. A iniciativa ainda é tímida, mas tende a ganhar importância. Há poucos dias, a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos realizou, em Brasília, um simpósio para discutir justamente como ajudar os homens com esse perfil.

 

"Não basta orientar as mulheres", garante a coordenadora do Programa Pacto Comunitário Contra Violência Familiar da Secretaria dos Direitos Humanos, Roseana Corrêa. Os defensores dessa nova forma de atuação acreditam que, dando aos homens a oportunidade, é possível evitar novos casos de agressão.

Desde que o trabalho começou, há um ano, já surgiram em algumas cidades do País grupos de voluntários para trabalhar na comunidade. Nesse período, foram sendo descobertas diversas maneiras de abordagem dos agressores - para conversas, em locais de trabalho, jogos de futebol, reuniões religiosas. "Seja qual for a forma de abordagem, é preciso garantir a eles espaço para discutir seus problemas", explica Roseana.

 

Um dos primeiros grupos a prestar atendimento aos homens foi o Pró-Mulher, Família e Cidadania, em São Paulo. Desde que estendeu sua forma de atuação, a instituição conseguiu contornar o problema da desistência do atendimento. Em 1992, antes de os grupos masculinos serem formados, a maioria das mulheres abandonava a orientação logo depois das primeiras sessões. Naquele ano, o índice de desistência era de 78%. Hoje, é de 22%. Os acordos agora também são muito mais freqüentes. As separações ocorrem, mas em sua grande maioria são de forma consensual.

"As mulheres muitas vezes nos procuram para pedir ajuda, não para se separar", diz a presidente da organização, Malvina Muszkat. "Hoje, sabendo que seus companheiros também serão orientados, elas se sentem mais confiantes e também mais estimuladas a continuar o atendimento."

 

Separação - A surpresa é que, ao fim do trabalho, muitas mulheres acabam achando melhor a separação. "Mesmo que o divórcio ocorra, o casal que passa pela orientação acaba tendo uma outra forma de relação."

 

Na semana passada, Raul (nome fictício) foi com toda a sua família para o atendimento no Pró-Mulher. No lado de fora, sua mulher, Regina tentava distrair a filha do casal enquanto a sessão era realizada. Durante a espera, Regina contou que procurou a instituição depois que seu marido começou a ficar a cada dia mais violento. "Somos muito novos, temos uma filha linda e estou esperançosa que nossa relação mude."

 

No Pró-Mulher, os maridos acusados de praticar violência são convidados a ingressar nos grupos. Eles participam dos trabalhos ao lado de homens que procuram a instituição para resolver problemas como divórcio ou guarda dos filhos. Depois de algumas sessões, os casais são convidados a participar de uma discussão mediada por psicólogos ou advogados.

 

"Os homens muitas vezes usam a violência para esconder fragilidades", afirma Malvina. Ela conta que não é raro eles chegarem com comportamentos autoritários. "Ao longo do trabalho, porém, percebemos que muitas vezes eles são dependentes, deprimidos e cultivam um sentimento de abandono."

 

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