A teoria da masculinidade

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A teoria da masculinidade

Neste capítulo pretendo expor a teria da masculinidade relacionando-a a determinados eventos, ocorridos na sociedade norte-americana, tais como o movimento feminista, e a Iron John: A Book About Men. Isto porque a dinâmica da construção da teoria sobre a masculinidade está profundamente marcada pelos debates e pelas lutas políticas que marcaram a história dos Estados Unidos neste século.

Claro que seria possível recuar ainda mais no tempo e demonstrar que as características que hoje marcam a masculinidade, no sistema patriarcal, remontam a séculos atrás. Contudo, o objectivo é inserir Robert Bly no contexto americano e, dessa forma, contextualizar Iron John: A Book About Men.

Assim sendo, abordarei a teoria do género centrada na masculinidade, e alguns aspectos especificamente relacionados com a hegemonia masculina, uma vez que a obra de Bly trata da criação de um novo espaço e da criação de uma nova roupagem para este modelo de masculinidade já gasto e profundamente criticado no seio da sociedade norte-americana.

 

I - A construção de uma teoria da masculinidade:

O essencialismo

No final do século passado o essencialismo teve um forte impacto no meio académico, influenciado pela teoria de Darwin, vindo a ressurgir na sociobiologia, fundada em 1975 por E. O. Willson, e no feminismo diferencialista.

As teorias sociobiológicas, mais difundidas nos países anglo-saxónicos, estabeleceram que é a biologia que define, em última instância, a essência masculina e feminina, de forma que os comportamentos humanos possam ser explicados em termos de hereditariedade genética e de funcionamento fisiológico.

Em The cultural construction of sexualities (Brandes, S.. "Like Wounded Stags: Male Sexual Ideology in an Andalusian Town", Ortner, S. e Whitehead, H., orgs., Sexual Meanings: The cultural constrution of Gender and Sexuality. Cambridge: Cambridge University Press, 1981: 216-39), a teoria de Kinsey, de Masters e a de Johnson é referida como um bom exemplo de como a relação entre a teoria essencialista e a sexualidade foi usada para justificar a dominação masculina. Segundo a teoria de Kinsey, o desejo sexual é uma necessidade biológica básica, sendo a masculina geralmente mais forte do que a feminina. Se o desejo (masculino) de ter relações sexuais é negado ao indivíduo, ele irá buscar formas ilegítimas de satisfação, tais como a violação e outros desvios sexuais. Por outro lado, a repressão do desejo sexual pode gerar doenças físicas e/ou mentais, como é o caso das neuroses na mulher. E, finalmente, o desejo de sexo é tão básico quanto o desejo de comida e, segundo os autores, o sexo de que todos necessitamos é o do acto sexual, ou seja, copulação ou coito, havendo neste ponto uma evidente negação do prazer através da masturbação, ou de outras práticas sexuais, para além de justificar a violência masculina contra a mulher e mesmo a violação.

Mas não foi só na sociobiologia que o pressuposto essencialista exerceu a sua influência. Badinter (Badinter, Elisabeth, 1993) refere que no final da década de 1970 as feministas diferencialistas também recorreram à biologia na tentativa de definir a pessoa feminina. Acreditando na existência de uma essência sexual imutável para cada sexo, sustentavam que é esta diferença radical entre o ser masculino e o ser feminino que leva uma relação harmónica entre os sexos.

As diferencialistas, descrentes do feminismo defendido por Simone de Beauvoir, por constatarem que as mulheres pouco haviam conquistado, dado que muitas exerciam uma dupla jornada de trabalho, ocupavam postos de trabalho menos remunerados do que os equivalentes masculinos e sofriam uma pressão sexual masculina ainda mais forte, defendiam que as mulheres, no intuito de superarem as condições desfavoráveis, negaram a sua própria essência, perdendo assim a sua identidade. Logo, para reaver a identidade perdida, as diferencialistas chamaram a atenção para as diferenças corporais e para o inconsciente especificamente feminino, valorizaram a volta à maternidade, onde reside o verdadeiro destino feminino, a condição do seu poder e da sua felicidade.

Mas em termos de estudo do género, foi a Escola das object relations, e mais especificamente Nancy Chodorow, em 1974, quem produziu a teoria actualmente mais conhecida a respeito da formação da identidade masculina.

Chodorow estudou as dinâmicas estruturais de socialização da família para expor os traços principais das personalidades masculina e feminina. Seguidora da linha freudiana, afirma que as origens da subordinação feminina dependem de uma noção universal de que as crianças do sexo feminino e masculino experimentaram relações fundamentalmente diferentes com a mãe, relações que teriam a ver com a inclinação psicológica das mulheres para o "tomar conta do outro" e a dos homens para o controle, expressando desta forma uma séria preocupação com a fase pré-edipiana e com a separação da mãe, para a consolidação da identidade de género, pois as diferenças de género são criadas conscientemente durante este processo de separação.

O percurso para o masculino constitui, assim, um desvio e um caminho feito de insegurança, visto que as origens da auto-identidade masculina se prendem com um profundo sentimento de perda, que mais tarde assalta inconscientemente as memórias do indivíduo, pois a confiança ontológica do rapaz é abalada pelo seu abandono no mundo masculino por parte de quem foi o adulto amado e em quem confiava: a mãe.

O carácter essencialista do pensamento de Chodorow reside na forma como esta vê a mulher como um ser onde a identidade é automaticamente construída pelo facto de ser biologicamente mulher e por imediatamente se identificar com a mãe, não focando a necessidade da filha em se diferenciar da mãe para, aí sim, construir a sua identidade.

Desta forma Giddens (Giddens, Anthony. As consequências da modenidade. Trad. Fernando Luis Machado e Maria Manuela Rocha. Oeiras: Celta Editora LDA, 1992) critica a posição essencialista já que no actual contexto em que vivemos nada tem essência, todas as coisas são estruturadas no jogo dinâmico das significações. A ideologia faz da masculinidade uma norma, portanto as diferenças essenciais entre o homem e a mulher são socialmente construídas e, assim, sujeitas a alteração.

 

A teoria do papéis sociais:

A reflexão sobre a existência de um único modelo de pessoa masculina assentou na teoria dos papéis sociais que, pese embora dissociada de um modelo claramente essencialista, possuía uma visão funcionalista e universal do papel de cada sexo na sociedade.

Orlindo Gouveia (Vala, Jorge (org.) Psicologia social. Lisboa: Fundação Caloust Gulbenkian. 1993: 30) define papel social como sendo um modelo de desempenho ligado a uma posição social. Nos anos trinta a noção de papel social (role) como conceito estrutural básico das ciências sociais foi cristalizado e imediatamente aplicado às questões do género. Desde então, a ideia de papel social pressupõe um padrão de comportamento aceite e reconhecível, já que a sociedade é organizada em torno da diferenciação consensual dos papéis masculinos e femininos. O problema com a literatura sobre os papéis sociais é que ela não faz uma distinção consistente entre o que espera que sejam as pessoas, e o que elas realmente fazem. As variações ao modelo são vistas como desvios ou falhas na socialização. Esta perspectiva é particularmente evidente na versão funcionalista da teoria dos papéis sociais.

A teoria funcionalista, cuja principal figura foi Talcott Parsons, dominou o discurso sociológico ocidental sobre a mulher. Esta perspectiva centra-se na funcionalidade, pretensamente universal, das diferenças entre os sexos no quadro de um sistema social que não constitui, ele próprio, objecto de análise. Nessa perspectiva, Parsons (Rocher, Guy. Talcott Parsons e a sociologia americana. Trad. Olga Lopes da Cruz. Rio de Janeiro: Livraria Fransisco Alves Editora S.A., 1976) afirma que o bom funcionamento do grupo familiar depende de uma distinção total e assimétrica, embora ele não refira este termo, dos papéis sociais do pai e da mãe, seja quantitativa seja qualitativamente. Ao pai cabe representar e exercer a autoridade para além de ser a interiorização dos valores ditos universais. Por seu lado, a mãe possui a função de assegurar o funcionamento da família através das tarefas de dona-de-casa e de mãe, ficando restrita ao espaço doméstico.

A grande evolução da teoria dos papéis sociais foi a rejeição do argumento da diferença biológica em favor da diferença estrutural, da distinção entre liderança instrumental e expressiva (onde os papéis sexuais diferentes para os dois sexos estão a operar dentro de um núcleo familiar, sendo motivado, segundo Lígia Amâncio (Amâncio, Lígia. Masculino e feminino: a construção social da diferença. Porto: Edições Afrontamento, 1994), pelo peso da psicanálise que relaciona o ser masculino e o ser feminino) e a crise edipiana, razão pela qual os papéis sexuais passam a ser entendidos como parte do indivíduo. Esta noção permite a Parsons resolver o problema de como estabelecer a ligação entre pessoa e sociedade. No entanto, a teoria parsoniana apresenta algumas falhas, pelo facto de apontar determinado modelo como sendo o normativo e outro divergente como um desvio, por excluir da sua abordagem a tensão e o poder contidos nas relações de género, visto que a cultura tem como função primeira fornecer as normas e os valores que favorecem a integração do sistema psíquico.

Em 1981 Joseph Pleck (Connell, Robert, 1995) propôs uma teoria não normativa dos papéis sexuais que ignorasse o papel do eu. Publicou The Myth of Masculinity onde faz uma abordagem critica do paradigma da identidade masculina baseada nos papéis sociais (Male Sex Role Identity foi a denominação que deu à teoria funcionalista dos papéis sociais), ao criticar a ideia de que é a conformidade com o papel social sexual que promove o ajustamento psíquico. Numa abordagem foucaultiana, Pleck argumentava que a teoria dos papéis sexuais era uma forma de política de género, isto porque as mudanças históricas nas relações de género requerem uma alteração na forma de controle social sobre homens e mulheres. Por tudo isto, é considerado por Connell como um dos poucos escritores, fora do movimento homossexual, a observar que a dicotomia homossexual/heterossexual actua como tema central em todos as categorias de masculinidade. O que emerge deste argumento é o conceito de masculinidade hegemónica e não de papel masculino. Esta perspectiva, segundo Pleck, estaria a provocar novos paradigmas para o estudo dos papéis sociais, de acordo com o que é mais relevante para a sociedade contemporânea.

O construcionismo:

Como reacção ao essencialismo, na década de 1980 surgiu o construcionismo defendido principalmente pelos especialistas dos men’s studies, que apoiados na antropologia social e cultural (cuja epistemologia é desde sempre construtivista) e nas recentes investigações históricas e sociológicas sobre a masculinidade, concluíram que a masculinidade é uma ideologia que tenta justificar a dominação masculina. Nessa perspectiva o género é socialmente construído e não biologicamente determinado.

Segundo a teoria construcionista não há um modelo transitório ou culturalmente universal (arquétipo) de masculinidade, ela varia no tempo e no espaço. Foi Margaret Mead (Brandes, 1981) quem em 1928 teve uma considerável influência sobre as teorias do género e da sexualidade, ao afirmar que o género é uma construção social e não resultante de uma base biológica, sendo a cultura a causa decisiva das variações das identidades do género.

Simultaneamente, a teoria da socialização corrobora a noção do primado da cultura ao afirmar que é no decorrer do processo de socialização que o indivíduo interioriza a sua identidade de género. Mas Lígia Amâncio (Amâncio, Lígia. 1994: 27) chama a atenção para o carácter limitativo desta teoria no que diz respeito à tentativa de explicar o sentido das diferenças das identidades de género, visto que os indivíduos nascem automaticamente inseridos num determinado sistema social que possui os conteúdos simbólicos associados ao masculino e ao feminino que este processo irá reproduzir. Pois é nas instituições socializadoras como a família, a escola, a igreja e o próprio Estado, que residem tais conteúdos, sob a forma de uma ideologia tornada inconsciente ao longo do processo de socialização.

Da mesma forma Robert Connell (Connell, Robert. 1995) aponta o paradoxo existente tanto na teoria construtivista como na da socialização. Enquanto as construções sociais das categorias de género são cuidadosamente descritas em termos de particularidades, a noção das categorias de género usualmente pressupõem uma irrefutável dicotomia do género, o que, afinal, reside nas noções essenciais da diferença biológica. Resta-nos então a construção cultural do género e a noção de sexo biológico. Neste caso, enquanto a dicotomia natureza/cultura tem mostrado ser culturalmente específica, a dicotomia em si tem, com efeito, sido uma mera apresentação com uma forma nova. A especificidade cultural e histórica tem residido em pressupostos biológicos universais: os corpos dos machos e das fêmeas.

Para Connell os cinco principais problemas da teoria construcionista são: (a) os seus argumentos deixam-nos com as categorias dicotómicas de ‘homens’ e ‘mulheres’; (b) entende os indivíduos como unos, porém não formados; (c) não assume a construção do corpo como uma construção social, tendo a esse respeito uma visão essencialista; (d) estabelece a construção do género em termos de pessoa unitária; (e) as relações entre homens e mulheres são vistas em termos de interacção, de entidades polarizadas. Assim sendo, verifica-se que embora assentes na oposição natureza-cultura, as teorias construcionistas, ao manterem a dicotomia masculino-feminino, apresentam uma visão essencialista e redutora do género. Principalmente por não focarem a existência de outras formas de masculinidade e de feminilidade.

Foucault (Foucault, Michael. História da sexualidade I - a vontade de saber. Trad. Pedro Tamen. Col. Antropos. Lisboa: Relógio d’Água. 1994) dá um passo à frente da teoria construtivista, ao entender que o corpo não é uma dádiva da natureza: os corpos são construídos de acordo com as particularidades histórico-sociais. Na sua análise sobre a relação da sexualidade com o poder, verifica que, no século XIX, todo o processo de crescimento e estabelecimento da hegemonia da burguesia esteve assente na valorização do corpo em detrimento da valorização do título de nobreza ou do prestígio social da família, dado que esta pretendia opor-se à aristocracia e demarcar o seu peso social. Residindo a sexualidade no corpo, ela é, por consequência, uma forma de poder. Alguns exemplos do poder que a sexualidade exerce hoje, e exerceu no passado, são os imperativos da decência e do pudor, principalmente associados ao sexo feminino, e o processo de auto-afirmação que passa pela relação do indivíduo com o seu corpo, desde a postura até à forma como se veste.

Em suma, o essencialismo e construcionismo apresentam-se como pólos irreconciliáveis. Entre os defensores do determinismo biológico, que traçam o retrato do macho eterno, e os seus opositores, que declaram tranquilamente que o género masculino não existe, temos a sensação de que o enigma masculino é mais misterioso do que nunca. Se a diversidade dos comportamentos desmente a predominância do biológico, a multiplicidade das masculinidades não impede os caracteres comuns, ou mesmo as conivências secretas. Torna-se imprescindível entender natureza e cultura como complementares e não como pólos opostos.

A teoria do género:

Foi graças ao trabalho pioneiro das feministas e das suas acções políticas, e aos estudos sobre as mulheres, que o meio académico se deu conta da forma como actua o género, sendo considerado, actualmente, a par dos problemas de classe e de raça.

Por conseguinte raça, classe social e o género passam a ser vistos como portadores dos mecanismos centrais através dos quais o poder e os recursos são distribuídos na sociedade, sendo através deles que os indivíduos modelam os significados das suas vidas. De acordo com Miguel Vale de Almeida (Almeida, Miguel Vale. 1995), as variáveis classe e raça são cruzadas transversalmente pelo género, pois que este, enquanto constituinte de identidades, pessoais e sociais, não cria grupos mas antes categorias. O sistema de género é, antes de mais, uma estrutura de prestígio, onde as relações de parentesco, de família, o incesto e a heterossexualidade são por ele estruturadas.

Enquanto as categorias homem e mulher são universais, os seus conteúdos variam de cultura para cultura, estando a elas associado um vasto leque de actividades, atitudes, valores, objectos, símbolos e expectativas, donde o género associado aos órgãos genitais é o critério base para marcar os indivíduos numa categoria de nascimento. Logo, a definição da pessoa masculina não pode ser reduzida aos caracteres sexuais, pois um homem rico não é definido da mesma forma que um homem pobre, um português não é definido da mesma forma que um americano.

… natural features of gender, and natural processes of sex and reproduction, furnish only a suggestive and ambiguous backdrop to the cultural organization of gender and sexuality. What gender is, what men and women are, what sorts of relations do or should obtain between them - all of these notions do not simply reflect or elaborate upon biological "givens", but are largely products of social and cultural processes. (Citação de Ortner e Whitehead Sexual meanings (1981:1) em Almeida, Miguel Vale. 1995: 128)

Porém, como formador da auto-identidade, o género pode ser definido como um conjunto de ideias que informam cada sexo, num determinado contexto, a respeito da sua actividade. Neste caso, tendo em conta que os discursos de género variam consoante o contexto, o seu delinear é tanto mais fácil quanto menos instituido for o contexto, donde reconhecer o género como uma expressão da sociedade exige que se o entenda como produto e produtor da história.

Assim sendo, e segundo Lígia Amâncio (Amâncio, Lígia. 1994), uma análise do ponto de vista construcionista tem como base que nenhum símbolo particular do género pode ser bem compreendido sem uma apreciação da sua posição num sistema mais alargado de símbolos e significados, pois não se trata de saber só o que significa, numa dada cultura, o termo macho, fêmea, sexo e reprodução: estes termos têm de ser entendidos num contexto mais vasto de inter relação de significados.

Consequentemente, as experiências entre as pessoas, de género e de poder, são historica e socialmente construídas. É necessário focar os processos de construção do género, as metáforas do poder do género, e a relação entre dominante e dominado na masculinidade e outras identidades de género. O processo de construção do género produz a diferença e a desigualdade e em nenhum lugar isto é mais obvio do que nas versões da masculinidade associadas às noções de poder.

II. Masculinidade e masculinidades:

O género e a definição de masculinidade:

Robert Connell (Connell, Robert. 1995) define a masculinidade como sendo, ao mesmo tempo, uma posição nas relações de género, as práticas através das quais os homens e as mulheres ocupam esse lugar no género, e os efeitos dessas práticas nas experiências físicas, pessoais e culturais.

A partir desta definição o autor apresenta quatro linhas teóricas que podem ser utilizadas para definir a masculinidade: o essencialismo, o positivismo, o normativo e a semiótica. O essencialismo define a masculinidade como um conceito universal baseado na hereditariedade biológica; o positivismo define o masculino (numa perspectiva a-histórica) como uma estrutura única, um arquétipo; no normativo é definida uma identidade padrão onde a masculinidade é o que os homens devem ser, embora sejam tidas em consideração as diferenças entre os indivíduos masculinos; e a semiótica define a masculinidade através de um sistema de símbolos diferentes, no qual os espaços masculino e feminino são contrastantes, sendo a masculinidade definida como o não feminino.

No contexto da presente monografia não irei seguir totalmente a linha de análise de Connell pelo simples facto de procurar restringir tanto quanto possível a análise da masculinidade aos elementos necessários para a compreensão da obra de Bly, não querendo com isso dizer que a doutrina de Connell esteja totalmente ausente da minha análise, como aliás se pode verificar relativamente ao essencialismo.

As relações de género que resultam da definição das identidades de género têm implícito as relações de poder (Foucault, Michael. 1994), e tal como a noção de género, a masculinidade é uma noção fluida e situacional, havendo portanto que considerar as várias formas como as pessoas entendem a masculinidade numa determinada situação, e explorar a forma como as diversas masculinidades são definidas e redefinidas na interacção social. No caso de Robert Bly a masculinidade é definida pelas três imagens apresentadas no primeiro capítulo (o Rei, o Guerreiro e o Agricultor) que representam a essência da masculinidade, pela heterossexualidade e pela raça branca, factores preponderantes sempre que o autor menciona os homens alvo da sua "terapia" da masculinidade.

Seguindo uma linha teórica positivista, Thomas Gregor defende que os ideais de género, ou as imagens guia, diferem de cultura para cultura, mas por baixo das diferenças superficiais, ou daquelas que nos saltam mais à vista, existem semelhanças intrigantes entre as culturas que revelam a existência de algo em comum. Marcados pela frequência estatística de tais regularidades nos padrões sexuais, um número de observadores referiu que as culturas são mais semelhantes do que diferentes a este respeito. Este facto leva Lonner (Gilmore, David. Manhood and the Making: Cultural Concepts of Masculinity, New Haven: Yale University Press, 1990) a argumentar que a cultura é somente uma ténue camada que cobre uma essência universal do dimorfismo de género. Nesse sentido, a perspectiva de Bly apresenta igualmente um carácter positivista, dado que ele define o ideal masculino com base numa noção de que é possível fazer-se uma análise transcultural das personagens míticas, as quais devem ser entendidas como emblemas da masculinidade.

As principais aplicações do conceito de género vieram do psiquiatra americano Robert Stoller, para quem o género tem conotações psicológicas ou culturais, constituindo o núcleo da identidade de género o garante de que a atribuição do seu sexo foi correcta.

Stoller afirma que só através da separação da mãe é que o indivíduo consegue formar a sua identidade de género masculina, tal como o faz Chodorow. Deste modo, desenvolve o conceito de proto-feminidade da criança macho dada a identificação que a criança sente em relação à mãe, e a noção do primado da feminidade. Enquanto a relação homossexual mãe/filha dos primeiros meses só poderá acentuar, na rapariga, o sentimento de identidade, o rapazinho deverá fazer tudo para anular as pulsões protofemininas, consequência da relação mãe-filho. A tentativa de anulação das pulsões protofemininas surpreende-se no modelo comportamental masculino socialmente aceite, já que é composto de manobras defensivas: o receio das mulheres, o receio de mostrar qualquer forma de feminidade - inclusive ternura, passividade ou dispensa de cuidados aos outros - e, evidentemente, o receio de ser desejado por um homem.

Desta forma Nancy Chodorow surge aqui como o elo de ligação entre a aplicação do conceito de género por parte de Robert Stoller e a visão de Robert Bly quanto à necessidade do homem de se demarcar do mundo feminino. Isto acontece porque a teoria de Chodorow foi rapidamente apreendida por pretensos académicos e por aqueles que como Bly assumem o papel de intérpretes e de intermediários entre este discurso e a sociedade.

Isto porque ao nível do senso comum, as diferenças entre os sexos são uma realidade universalmente verificável porque facilmente se sobrepõe uma diferença em termos de atributos físicos e características fisiológicas a uma categoria social, o género. Isto ocorre dada a estabilidade temporal e a instrumentalidade contextual destas diferenças que encobrem, na realidade, as formas de construção do social, verificáveis no quadro das relações sociais próprias dos contextos históricos.

A relação entre o senso comum e a ciência, no processo de conhecimento da realidade social, que cristaliza esta sobreposição, dá-se no momento em que a ciência revê o conhecimento do senso comum sobre as diferenças de género. Tudo porque o senso comum não critica a ciência: serve-se dela. O senso comum entende o género como uma propriedade dos indivíduos, quando o determinismo biológico é abandonado e o género continua a ser visto como um carácter individual produzido em termos sociais (Connell, Robert. 1995); mas este é, na verdade, um produto colectivo onde o género estrutura as práticas sociais.

Esta forma de entender as categorias de género como uma dicotomia (homem-mulher, masculino-feminino) e de entender a sua razão de ser (fundamentada em discursos biológicos e psicológicos) remetem para a questão da assimetria, fundamental para se perceber grande parte dos sentimentos de Robert Bly quanto ao avanço das americanas no espaço tido como reduto masculino.

De uma forma sucinta a assimetria nas relações entre os homens e as mulheres estabelece-se porque ao grupo masculino é atribuido um poder e todo um rol de qualidades que o colocam acima da sociedade e o identificam ao ideal de pessoa.

Robert Connell (Connell, Robert. 1995:164) afirma que a dominação masculina sobre a sociedade dá-se porque essa dominação responde, em parte, ao facto de o poder da razão ser incorporado pelos homens (aqui subentendem-se brancos, de origem anglo-americana e heterossexuais) e consequentemente representar os interesses de toda essa sociedade. Esta ideia é reforçada por Lígia Amâncio ao mencionar Moscovici:

Moscovici (1972) analisou o âmbito da dominância simbólica do masculino e a sua extensão nos conteúdos de uma epistemologia do senso comum que orienta a inserção social dos indivíduos em função da sua pertença social, estabelece uma hierarquia entre os sexos e introduz dimensões de assimetria na diferenciação entre homens e mulheres, que atravessam todas as instâncias sociais e são operacionalizadas em mitos e magias, como os que envolvem a proibição do incesto. (Amâncio, Lígia. 1994: 28)

Para Bourdieu a dominação masculina não necessita de justificação, estando a visão dominante expressa em discursos como os provérbios e os poemas. É através dos corpos socializados, e das práticas rituais que o passado se perpetua no longo tempo da mitologia colectiva. Para este autor a dominação masculina comporta uma dimensão simbólica, onde o dominador (o homem) deve conseguir obter do dominado (a mulher) uma forma de adesão que não se baseia numa decisão consciente, mas sim, numa submissão imediata e pré-reflexiva dos corpos socializados. Logo, a negação consciente da subordinação implica a recusa da posição de dominado, resultando na revolta. É esta a lógica da relação dominante-dominado em que Susan Faludi (Faludi, Susan. 1991) se baseia para explicar a difusão da ideologia conservadora contra a mulher (backlash). O grupo dominante, a fim de manter a sua posição, constrói e difunde uma ideologia, que é aceite pelo grupo dominado, de forma a que este interiorize a sua subordinação.

A esse respeito chamo a atenção para o artigo de Michico Kakutani o qual refere a existência de dois livros feministas que são reflexo da ideologia de Robert Bly. No meu entender os livros de Clarissa Pinkola Estés e de Marianne Williamson são, em parte, a aceitação da ideologia difundida pelo grupo dominante. Embora as autoras preguem a superioridade feminina em relação aos homens, valorizando-a com o recurso a imagens poéticas de Rainhas, Deusas e Sábias, estão a fundamentar a posição das mulheres enquanto detentoras de um saber mágico, um sexto sentido, reduzindo-as ao campo do irracional, emocional e sentimental. Um espaço que também Bly defende como sendo o espaço feminino, pois aos homens cabe o espaço racional, do poder e do controle tecnológico. Esta adesão inconsciente do dominado pode ter como explicação o facto de as relações de poder não serem, segundo Foucault (Foucault, Mmichael, 1994: 39), exteriores a outros tipos de relações (processos económicos, relações de conhecimento, relações sexuais - e aqui entra o género e a masculinidade tradicional), mas antes imanentes, constituindo os efeitos imediatos das partilhas, desigualdades e desequilíbrios que aí se produzem; e são, reciprocamente, as condições internas dessas diferenciações: as relações de poder não estão em posições de super estrutura, com um simples papel de proibição ou de recondução; elas têm, onde funcionam, um papel directamente produtor.

A questão que se coloca quando Robert Bly defende a manutenção de um grupo masculino no poder, reduzindo-o ao único grupo realmente masculino, é a da anulação - ao nível do discurso - e da subordinação - ao nível das relações de poder - de outras formas de masculinidade. A esse respeito contraponho Miguel Vale de Almeida:

… "ser homem", no dia a dia, na interacção social, nas construções ideológicas, nunca se reduz aos caracteres sexuais, mas sim a um conjunto de atributos morais de comportamento, socialmente sancionados e constantemente reavaliados, negociados, relembrados. Em suma, em constante processo de construção. (Almeida, Miguel Vale. 1995: 128)

Logo, não é possível falar-se num arquétipo da masculinidade, tal como o faz Bly, e consequentemente ignorar outros modelos de masculinidade.

Assim, se o trabalho das feministas foi o de questionar o papel preponderante do homem na sociedade, este questionamento foi sendo cada vez mais profundo, no sentido em que esta reflexão sobre a masculinidade deu lugar à reflexão da pertinência em se falar de "masculino" e de "feminino" como categorias homogéneas. Todo este processo, desencadeado nos anos 60, leva autores como Sherry Ortner e Robert Connell a concluírem que existe de facto um grupo masculino dominante, uma hegemonia masculina. Connell (Connell, Robert. 1995) refere que a masculinidade hegemónica, para além de ser caracterizada pela detenção do poder e pela racionalidade, é ainda marcada pelo que define como heterossexualidade compulsiva, uma heterossexualidade forçada e exigida pela sociedade. Porém, antes de abordar a questão da heterossexualidade gostaria de aprofundar outras questões relativas à dicotomia masculino-feminino, tais como as dualidades natureza-cultura, emoção-razão e espaço privado-espaço público, uma vez que sobre elas assenta grande parte do discurso a favor da hegemonia masculina.

O dualismo no discurso do género:

Um primeiro aspecto das representações do masculino e do feminino diz respeito à estrutura cognitiva dos géneros em categorias dicotómicas, e a este nível os sexos biológicos desempenham o papel de critérios classificativos em torno dos quais se organizam configurações de atributos. As categorias baseadas em características físicas permanentes constituem identificadores que os indivíduos transportam consigo, ao longo de toda a sua vida e em todos os contextos, e cuja mudança não está plenamente ao seu alcance.

Os estudos em cognição social de Fisher e Taylor (Ortner, S. & H. Whitehead. Sexual Meanings: the Cultural Construction of Gender and Sexuality. Cambridge: Cambridge University Press. 1981: 130) mostram que a identificação da categoria de pertença é uma dimensão tanto mais importante das interacções sociais (uma vez que suscita a inferência dos atributos a ela associados) quanto mais as configurações de atributos forem socialmente partilhadas. Esta associação de atributos às categorias de pertença tem como base três tipos de dualidades que podem sobrepor-se ou não (consoante a cultura num determinado espaço e tempo) associadas ao modelo de pessoa masculina e ao modelo de pessoa feminina, sendo que qualquer um dos tipos está fundamentado numa valoração assimétrica dos géneros.

A primeira, e para alguns a mais óbvia, é a dualidade baseada na identificação da pessoa masculina à cultura e da pessoa feminina à natureza. Lígia Amâncio (Amâncio, Lígia. 1994) defende que a biologia, para o pensamento do senso comum, é um pretexto explicativo que surge mais claramente associado ao discurso sobre o sexo feminino, sendo por isso o discurso sobre o sexo masculino marcado por uma explicação em termos culturais. E Bourdieu justifica que a visão natural da condição feminina e da sua construção social é reveladora do status inferior com que a sociedade a identifica.

A diferença entre os sexos biológicos foi construída de acordo com os princípios de divisão de uma visão mítica do mundo, princípios que são eles mesmos o produto da relação arbitrária de domínio dos homens sobre as mulheres, que está contido na realidade do mundo como uma estrutura fundamental da ordem social. Daí que se construa um discurso onde se realçam as diferenças anatómicas entre os sexos. Bourdieu compara o sexismo ao racismo, enquanto formas de essencialismo, e como tal, as crenças, produzidas neste contexto, são de difícil desenraizamento. O aspecto dos corpos é utilizado como fundamento óbvio, como justificador de um discurso que transformou um produto arbitrário da história em facto natural. Nesse sentido, Sherry Ortner (Ortner, S. 1981) lança a hipótese de que o facto da mulher estar especializada na reprodução aproxima-a da natureza e o homem fica, deste modo, relacionado com a cultura, e de que esta aproximação da mulher à natureza nada mais é do que uma componente simbólica do patriarcado.

A segunda dualidade baseia-se no confronto entre a razão e a emoção. Seidler (Badinter, Elisabeth. 1993), sociólogo e grande contribuinte nos debates inseridos no contexto dos men’s studies na Grã-Bretanha, afirma que a partir do Iluminismo a masculinidade tem sido identificada com a razão, ao passo que a feminilidade é considerada como a personificação da irracionalidade. Desde o Iluminismo, os homens passaram a considerar a racionalidade como parte integrante e exclusiva da sua identidade. Isto fez com que a racionalidade fosse o ponto principal que explica a superioridade masculina na vida social.

Rosaldo centra-se na terceira dualidade: a divisão entre público (masculino) e privado (feminino) como uma estrutura social que escora a universal dominação masculina. Michael D. Murphy (Murphy, M.. "Coming of Age in Seville: The Structuring of a Rites Passage to Manhood", Journal of Anthropological Research. nº 39, 1983: 376-92), ao analisar o caso de uma comunidade próxima de Sevilha, confirma a posição de Rosaldo, ao comprovar que as identidades de género estão directamente ligadas ao domínio dos espaços, onde o público pertence ao masculino e o privado ao feminino. De acordo com as práticas desta comunidade, a formação da identidade masculina exige que o adolescente se dissocie do espaço doméstico e se estabeleça como indivíduo activo e autónomo no espaço público. Lévi-Strauss conjuga as dualidades acima referidas e reporta o espaço público ao racionalismo e o espaço privado à emoção, para afirmar que o domínio doméstico é primariamente visto como uma entidade biológica (família biológica) onde a mulher actua no sentido do interesse dos seus sem se preocupar com o sistema social - o que importa é a manutenção da casa; e o domínio público, onde o homem se preocupa com o bem e a riqueza do social como um todo.

A associação dos espaços aos sexos está profundamente relacionada com a invenção social da maternidade no século XVII, que pressagiou e deu forma concreta à ideia de que a mãe devia desenvolver relações de afecto com a criança, de forma a dar um peso específico às necessidades do filho (Giddens, Anthony. 1995). Porém, no séc XIX a separação entre casa e local de trabalho, imposta pelo novo sistema de produção provocou o declínio do poder patriarcal dentro de casa - cresce o controlo das mulheres sobre os filhos, através da organização da casa e da sua responsabilidade pela educação dos filhos, que é cada vez mais valorizada à medida que as famílias se tornam mais pequenas. Deste modo, a sociedade industrial levou a que o pai passasse a trabalhar fora de casa e a mãe em casa. Esta nova organização do trabalho cria, de facto, uma real separação dos sexos e dos papéis, principalmente na classe média, classe esta que cria as representações da hegemonia masculina e que as globaliza através da educação e das políticas do Estado. Ao longo do século XIX, vão-se sedimentando os papéis dos dois sexos: ele, como ganha-pão, e ela, como dona-de-casa e mãe. Consolidando assim a imagem masculina associada ao espaço público e a feminina ao espaço privado.

As diferenças de géneros são entendidas como dicotómicas e absolutas. Mesmo uma análise histórica ou uma perspectiva transcultural, sob o ponto de vista essencialista, revela traços estáveis ou comuns em relação às variações dentro de um mesmo contexto, anulando assim as especificidades espaço-temporais onde as categorias de género não são tidas como fixas ou universais. (Cornwall, Andrea & Nancy Lindisfarne (org.). Dislocating masculine - comparative ethnographies. New York: Routledge)

A quebra, protagonizada pelas mulheres, com a noção de natural (biologia) deu-se quando decidiram actuar fora da esfera doméstica, com a educação sexual, a legalização do aborto e o aparecimento dos métodos contraceptivos. Todos estes factores foram condenados como propiciadores da evasão feminina à sua verdadeira essência. Na realidade, as diferenças psicológicas e sociais parecem ser mais um resultado da forma como a cultura interpreta, molda e modifica as suas heranças. Pode-se nascer macho ou fêmea, mas tornamo-nos homens ou mulheres inseridos num contexto cultural. (Kimmel, Michael & Michael Messner (org.). Men’s Lives. Boston: Allyn and Bacon, 1995) As diferenças usualmente encontradas em termos intelectuais, temperamentais, entre outros traços pessoais, quando aparecem são pouco significativas comparadas com as variações dentro de cada sexo e também quando comparadas com as posições sociais de homens e mulheres, que não devem ser tidas em conta. É o que Theodore Kemper afirma: "when racist and sexist ideologies sanction certain hierarchical social arrangements on the basis of biology, the biology is usually false." (Connell, Robert. 1995: 57)

A amizade masculina e a sombra da homossexualidade:

Entretanto, o facto de ao homem ser associado o racionalismo e de este dominar a sociedade pode levá-lo a encarar, com uma certa dificuldade, o expressar dos sentimentos, principalmente pelo facto de a emoção ser uma característica feminina. A difusão do pressuposto kantiano de que os sentimentos constituem um desvio do caminho da razão auxiliou a institucionalização de uma conexão entre identidade masculina e auto-controlo como forma de dominação sobre a vida emocional. As ciências sociais disciplinaram a mulher e as suas mentes. Construíram a emoção como um fenómeno individual e psíquico e evidenciaram a mesma relação como um discurso leigo entre as mulheres e a emoção - sua frequência, sua intensidade, suas virtudes, como um emblema da identidade do género feminino, mas mais do que tudo, o seu perigo e a necessidade implícita do o controlar.

Para muitos, tais como Komarowsky e Chodorow, a masculinidade é resultante de um longo processo de negociação da identidade da pessoa masculina com a mulher. Segundo esta perspectiva, de necessária distinção em relação à mãe e a tudo o que represente o universo feminino, a identidade masculina pauta-se pelo princípio de que é preciso dominar, possuir uma mulher, para não se tornar nela. Implícita fica a ideia da masculinidade associada à heterossexualidade, reflexo de uma visão hegemónica da mesma, na sequência da dominação masculina, da sua necessária superioridade social, e por fim da valoração do racional. Esta noção do ter para não ser remete-me para a questão da homofobia, que Michael Schwalbe define como sendo

The intense fear or hatred of homosexuality, among men is thus a part of reproducing male supremacy because it involves the devaluation of things defined as female, feminine, or womanly, such as the desire to have sex with a man. Men who show such desires are seen as traitors to their class because their deviance threatens the ideological belief that men are different from, and implicitly superior to, women. Men (and women) who are ferverent believers in rigidly gender roles tend to be the most homophobic. (Schwalbe, Richard. 1996)

Já Connell afirma que a homofobia não é só uma atitude, como a opressão sentida pelos homossexuais, ela também traça limites sociais ao definir o que é a verdadeira masculinidade e pelo seu distanciamento da masculinidade rejeitada, coexistindo com a misoginia.

O medo da homossexualidade está relacionado com estereótipos acerca do homem homossexual e da sua relação com o feminino, com um preconceito religioso de que a homossexualidade está moralmente errada, com as teorias científicas que identificam a homossexualidade como uma doença ou desvio, e com a crença de que a homossexualidade põe em risco a sobrevivência da sociedade. Mas homofobia também pode ser entendida como um sinal da fraca heterossexualidade - uma estratégia para evitar o reconhecimento de uma parte inaceitável de si próprio.

Porém alguns estudos antropológicos (Godelier, Maurice. La production de Grands Hommes. Paris: Fayard, 1982) apresentam casos de uma homossexualidade transitória, necessária para fortalecer a passagem do rapaz a adulto, não implicando em uma identidade masculina homossexual. A homossexualidade pode ainda ser um fenómeno especificamente histórico, e o facto de que isto é socialmente organizado torna-se claro uma vez que se faça a distinção entre comportamento homossexual e identidade homossexual (São exemplos os Boruya e os gregos da Antiguidad).

Paralelamente ao preconceito em torno da homossexualidade, a homofobia também lança o debate sobre as relações de amizade entre os homens. Estudos desenvolvidos por membros do Men’s Liberation Movement concluíram que os homens não têm verdadeiros amigos íntimos e que mesmo quando organizam alguma actividade em conjunto (assistir a um jogo, jogar cartas, etc.) mantém uma distância emocional considerada segura, isto porque as relações entre os homens é minada pelo medo da homossexualidade, de que os outros pensem que se é homossexual. (Gilmore, David. 1990)

Por tudo isto, a exaltação da virilidade é a melhor forma de "exorcizar" o fantasma da homofobia. Em termos de sociedade americana um dos melhores locais para se verificar como esta "exorcização" actua é o de desportos como o basebol ou futebol americano, pois os desportos que põem em jogo a competição, a agressão e a violência eram - e continuam a ser considerados nos Estados Unidos como a melhor iniciação à virilidade. Mike Messner (Kimmel, Michael. 1995) faz notar que uma tal concepção da masculinidade, competitiva, hierárquica e agressiva, não é propícia ao estabelecimento de amizades íntimas e duradouras com outros homens. Mas que inconscientemente os desportos de equipa que proporcionam aos homens a oportunidade de se tocarem e agarrarem, sem gerar suspeitas de intenções homossexuais, são oportunidades para a prática do homo-herotismo.

III. O conceito de crise e a crise masculina

O conceito de crise pressupõe a destruição de um sistema, de alguma forma coerente, e a sua posterior restauração (Connell, Robert. 1995: 81), conforme se comprova na análise da dinâmica do que ao nível do senso comum, é a crise da masculinidade.

A necessidade de restaurar a masculinidade dominante conduz à revalorização da masculinidade tradicional, pelos motivos já apresentados. Este esforço de restauração de uma imagem deteriorada provocou o surgimento de cultos do que comummente é definido como a verdadeira masculinidade. Demarcada pela excessiva valorização da virilidade, do sentido do dever, do sacrificar-se pelo bem da sociedade, do ideal de guerreiro, este culto da masculinidade fez nascer modelos masculinos como Silvester Stalone e Jean Claude van Dame, inspirados no antigo ideal masculino do cow-boy.

Contudo, para se entender as razões de ser das masculinidades contemporâneas é necessário ter uma visão geral das tendências da crise na ordem do género, segundo as três estruturas das relações do género definidas por Connell. (a) As relações de poder, que mostram a tendência mais visível da crise, com o colapso histórico da legitimidade patriarcal: o movimento global de emancipação das mulheres e a incapacidade das instituições civis, nomeadamente a família, de resolverem o problema. Portanto, a resolução da crise passa pela adopção de estratégias que visam legitimar as diferentes masculinidades, onde as tensões resultantes da crise podem levar alguns homens a aderirem aos cultos da masculinidade e outros a apoiarem as reformas feministas. (b) Em seguida, as relações de produção, as quais também têm sido palco de massivas mudanças institucionais, com o aumento de postos de trabalho ocupados por mulheres. (c) E, por último, as relações de cathexis (relações sexuais e afectivas) que se alteraram com a estabilização da sexualidade dos gays e das lésbicas, apresentadas como uma alternativa pública dentro da ordem heterossexual.

De uma forma sucinta, a crise masculina dá-se porque há um desfasamento entre o velho modelo masculino - rejeitado - e o novo, levando ao confronto entre a situação de ganha-pão com a de desempregado, em termos dos papéis masculinos, e por consequência à alteração dos padrões da hegemonia. A luta feminina pelo prazer sexual e pelo controle dos seus próprios corpos veio a afectar tanto as práticas hetero como homossexuais, resultando na existência de pontos de conflito em torno da desigualdade sexual, dos direitos masculinos no casamento e da proibição das relações afectivas homossexuais, e através da forma como a ordem sexual trata a liberdade sexual. Logo, a terapia de reconstrução da masculinidade, cujas raízes se encontram nos anos 70, com o discurso da nova esquerda feminista e o crescimento da terapia da contra-cultura, um misto de terapia neo-jungiana e da mitologia New Age, actua no sentido de tentar curar as feridas causadas aos homens heterossexuais pelas novas relações de género.

O elemento fundamental para se entender esta necessidade de alteração da abordagem foi a constatação da diversidade e a transformação da masculinidade apresentada por historiadores e etnógrafos. Daí que o tema central para uma nova história da masculinidade esteja naquilo que até então havia sido ignorado por uma abordagem da história da masculinidade baseada nos papéis sociais e não no género. Os elementos para uma nova forma de abordar a masculinidade têm surgido em várias disciplinas das ciências sociais estimulados pelo Men’s Liberation Movement e pela psicologia dos papéis sexuais. Ante a evidência de que não é mais possível falar-se de masculinidade, dado que coexistem várias formas de masculinidade num mesmo espaço e tempo, e dado que estas também se alteram com o passar da história numa mesma cultura, tornou-se imperativo aceitar o conceito de masculinidades, e com ele o conceito de identidade de género.

Os men's studies:

Foi na sociologia que tiveram início os estudos da masculinidade segundo a teoria dos papéis sociais, e foi também onde começou a formar-se um outro paradigma, através da análise de temas como a construção quotidiana da masculinidade, a importância da estrutura económica e das instituições, o significado das diferenças entre as masculinidades e as dinâmicas contraditórias do carácter do género. Sociólogas feministas argumentavam que a teoria dos papéis sexuais devia ser abandonada pois a noção de papel social mostrava-se incoerente, bem como a própria estrutura da teoria onde questões de poder e de desigualdade material continuavam a ser mascaradas.

Esta nova forma de pesquisa explora o fazer e o refazer das convenções na prática social. Em termos de análise sobre as construções das diferentes formas de masculinidade, começaram a ser tidos em conta factores como a raça e a classe social. Mas foi o movimento gay que, na luta pelos seus direitos cívicos (década de 1960) e na crítica ao modelo familiar (década de 1970) chamou a atenção para o peso da heterossexualidade na hegemonia masculina. "They [os activistas gay] generally saw the family is the factory of heterosexuality, meeting capitals need for a labour supply and the state's need for subordination." (Connell, Robert. 1987:36)

Esta nova sociologia da masculinidade não propõe modelos deterministas, antes estuda os vários projectos da masculinidade, as condições sob as quais eles são produzidos.

A novidade introduzida pelos men’s studies foi a de cortar com a tradicional análise do homem considerado como norma humana. Neste novo estágio da pesquisa sobre a masculinidade, as variações entre os homens são vistas como o ponto central para a compreensão do quotidiano masculino. Da relação entre a definição normativa da masculinidade (branco, meia idade, classe média e heterossexual) e as outras formas de identidade masculina resulta que a primeira deve ser vista como a dominante e não como a correcta.

O men’s liberation e o movimento mitopoético:

No entanto, a versão anti-feminista do men’s movement, onde Iron John é o mais mediático produto literário, oculta, ou pura e simplesmente ignora, a conexão entre a masculinidade e o poder, uma negação que busca reforços na psicologia popular e nas teorias neo-jungianas sobre a masculinidade, dado que este é o aspecto mais contestado no modelo masculino.

Uma vez que a masculinidade muda de sociedade para sociedade e também varia ao longo da história, a masculinidade enquanto objecto de análise tem de ser abordada como uma masculinidade em relação a. Desta forma, é a noção de género que constitui um objecto de estudo coerente para a ciência. Por outro lado, a cultura de massas assume que há uma verdadeira masculinidade fixa, isto porque são divulgados conceitos como: verdadeira masculinidade, homem natural, a essência da masculinidade, que advém em parte da pesquisa etnográfica anteriormente apontada como positivista.

Ou seja, as masculinidades são construídas dentro de uma estrutura de relações de género que tem uma dinâmica histórica. As políticas do men’s lib e as pesquisas no campo da androgenia são uma resposta ao feminismo, uma vez que o objectivo é produzir formas de masculinidade que sejam capazes de se adoptarem às novas condições, mas suficientemente similares às antigas, de forma a manter a família, a heterossexualidade, as relações de trabalho capitalistas, e o poder nacional americano. A retórica da cultura dominante levanta um complexo processo de negociação e contestação das identidades de género, podendo ser este o motivo pelo qual alguns teóricos referem que não se está a assistir a uma perda de poder masculino, mas sim a uma reestruturação deste poder. A necessidade de restaurar o poder perdido com a alteração das relações sociais gerou uma nova vaga do backlash.

Susan Faludi define-o como sendo um movimento da sociedade contra a ascensão, e libertação feminina, do espaço doméstico, com o objectivo de dividir e isolar as mulheres. Para isso declaram o fim do feminismo ou que o feminismo é cerceador das próprias mulheres.

And when women do not need to live through their husbands and children, men will not fear the love and strength of women, nor need another’s weakness to prove their own masculinity. (Faludi, 1991: 80. Faludi cita Betty Friedan, The Feminine Mástique)

Com o declínio do impacto do movimento feminista nas décadas de 1980-90 fala-se de uma reacção masculina contra o feminismo como uma forma de fazer retroceder os avanços que as mulheres já conquistaram. Faludi acredita que a crise da masculinidade ressurge cada vez que ressurge o backlash que relega as mulheres à tradicional feminilidade. Para Faludi, os emissários deste movimento encontram-se em toda a parte, são filósofos que invocam a era clássica, cientistas sociais com as teorias a respeito da constituição morfológica dos cérebros e antropólogos que estudam as comunidades primitivas com o intuito de mostrar a todos qual o local apropriado da mulher na sociedade. A importância do backlash reside em que, enquanto ideologia, impele a mulher para os ditos papéis tradicionais, procurando reforçar a assimetria e consequentemente definir o feminino de acordo com as dualidades anteriormente apresentadas. É por isso que o entendo como um dos resultados da crise masculina e o insiro no movimento de reconstrução de uma nova imagem da masculinidade.

O Men’s Liberation Movement

O movimento de libertação masculina surgiu na década de 1970, como produto do movimento feminista e dos estudos sobre os papéis sociais, com o objectivo de encontrar a masculinidade perdida, uma vez que os modelos que vigoravam até então se mostravam obsoletos. Neste sentido, defendiam que não só as mulheres eram vítimas do patriarcado, tal como afirma o discurso feminista, mas também os próprios homens se haviam tornado vítimas do sistema. Ao mesmo tempo foram apoiados pelo aparecimento dos Men’s Studies e pelo conceito de género. Porém, ao estimularem a necessidade de criação de uma área do saber que passa a ver os homens não mais como sinónimo de humanidade mas sim como grupo social foram, de certa forma, traídos, porque estes estudos se debruçaram na relação entre patriarcado e masculinidade hegemónica. Isto é, o men's liberation não pode ser o equivalente do women's liberation, dada a existência da assimetria. Há sempre uma tenção paradoxal que facilmente o transforma num movimento revanchista e reaccionário ao movimento feminista.

Por isso, na década de 1980, abriu-se um fosso entre os ex-adeptos do feminismo, agora voltados para a terapia da masculinidade, e a sociedade americana, principalmente no fim da era Reagan e no início da década de 1990. Isto porque pouco a pouco, a análise crítica da hegemonia masculina atingia níveis mais elevados de precisão e sofisticação. Razão pela qual foi no início desta década que o movimento mitopoético atingiu o pico da notoriedade, com o lançamento do livro de Robert Bly Iron Jonh: A Book about Men. Ou seja, o movimento masculino e a sociedade americana pareciam caminhar em sentidos opostos que conduziriam à exclusão do primeiro. Mas mesmo tendo em conta que esta defesa do patriarcado e da hegemonia masculina não tem em atenção a complexidade da construção social da masculinidade, o facto é que o discurso dos mitopoéticos difundiu-se de tal forma na sociedade a ponto de feministas como Clarissa Estés e Marianne Williamson ratificarem a ideia do essencialismo ao defenderem a volta ao antigo papel da mulher na sociedade como mãe e responsável pela espiritualidade. É claro que este discurso não valoriza a subordinação feminina ao homem, mas o interessante é que defende a volta a uma sociedade onde o ser mulher e o ser homem estão claramente definidos, onde não existem mulheres executivas nem homens sentimentais.

Pese embora esta difusão da ideologia mitopoética, o movimento masculino, em si, não atingiu até agora a força política e o impacto social que atingiram o movimento feminista e o homossexual, por exemplo. Isto deve-se fundamentalmente a dois factores: à descentralização e subdivisão do próprio movimento e ao dinamismo e flexibilidade de muitas das organizações a ele ligadas (Muitas das organizações desenvolvem actividades variadas como programas de anti-violência, terapia masculina, organização de grupos teatrais, edição de revistas e páginas na Internet, apoio a mulheres feministas durante os encontros, apoio e suporte jurídico a maridos que lutam pela guarda dos filhos entre outras). Estes factores levaram a que o movimento masculino não seja entendido como um movimento social (Connell, Robert. 1995: 241-242), que seja descrito como um apêndice do movimento feminista e que seja critic do e satirizado pelos exageros das práticas da terapia masculina. John A. Windrise (Em carta a mim dirigida), director no Reino Unido da Male Liberation Foundation, uma das maiores organizações ligadas ao movimento masculino, faz referência à Declaração de Cheltenham, um documento dirigido à sociedade britânica e redigido por dez representantes de seis organizações masculinas e pró-família. Defendem, entre outros aspectos, a necessidade de se superarem as barreiras que impedem a união das organizações masculinas num grande movimento. Segundo os autores da Declaração, só assim o movimento masculino teria mais força política e consequentemente mais impacto social, principalmente porque as organizações não se conhecem todas umas às outras.

With the help of TV appearances and the spread of male view throught the UK, groups like men in Crisis Helpline (MIC) become known to older groups like FNF and DADS, and, with great speed, a network of leading activists began to form and grow and to communicate regulary acros group boundaries. (Dr. Roger C. Witcomb, Male View magazine, UK, 1994, p8. FNF e DADS são siglas de grupos de ajuda ligados ao movimento masculino cujo significado não me foi fornecido)

Actualmente, o movimento mitopoético, a mais visível das vertentes do movimento masculino, conta com mais de 100.000 aderentes só nos Estados Unidos, sem mencionar as suas ramificações na Austrália, Inglaterra e Alemanha. A respeito deste movimento, e porque é dele que trata esta monografia, há ainda que ressaltar um último aspecto: a sua relação com a masculinidade tradicional e o principal foco motivador da adesão. Por um lado, e desde já pela própria configuração da maioria dos seus aderentes (brancos, ente 35 e 60 anos, classe média e heterossexuais), pode-se perceber a relação, consciente ou inconsciente, que se estabelece entre eles e a masculinidade hegemónica. Por outro lado, o facto de existirem determinados aspectos biográficos comuns, mais precisamente a ausência da figura paterna, a interiorização do conceito de masculinidade na perspectiva materna e feminista, gerou uma identificação dos membros entre si, destes com os líderes e por fim com a defesa da masculinidade tradicional, agora dita essencial.

Ou seja, apesar de negarem o modelo paterno de pessoa masculina, invocam para si um outro, igualmente estruturado no poder e na dominação masculina. A necessidade, gerada pela crise, de recuperarem a auto-confiança motivou a adesão ao movimento e a aceitação de um discurso exaltador da masculinidade, que enfatiza o peso dos caracteres biológicos na formação das identidades de género, tudo isso apoiado por uma prática inspirada no panteísmo e sustentado por uma visão da universalidade do género fundamentada nos conceitos jungianos de inconsciente colectivo e de arquétipos.

Desta forma, e tal como afirma Robert Connell, a crise da masculinidade, inserida no contexto da modernidade, foi desencadeada por uma forte negação da tradição, gerando assim uma insegurança quanto ao papel dos sexos na sociedade, e profundamente marcado pelo movimento feminista. A reconstrução do modelo implicou a criação de uma ideologia que mascarasse a realidade dos factos: estes homens em crise desejam recuperar o poder que, segundo eles, jaz nas mãos das mulheres. Um bom exemplo é o efeito do novo feminismo dos anos 70 nos estudos do papel dos homens, que fez aumentar bastante o número de volumes de publicações nessa área. Um dos temas mais proeminentes abordava questões como as restrições, desvantagens e as penalidades gerais que atingem os indivíduos por serem homens. Esta nova literatura entendia a masculinidade tradicional como má por duas razões principais: primeiro por levar os homens a terem comportamento desagradáveis como competirem entre eles, oprimirem as mulheres, destruirem o meio ambiente, arruinarem o terceiro mundo, mas principalmente por terem bombardeado o Vietnam. Segundo os homens, estão, eles próprios, desconfortáveis com isso. Há um dilema masculino, uma crise da masculinidade. Os homens não conseguem deixar de viver com essas imagens. A teoria central da literatura masculina dos anos 70 era a de que os homens eram oprimidos da mesma forma que as mulheres, ocultando a questão da assimetria.

Isto porque uma maneira confortável de escapar ao sentimento de culpa masculino relativamente aos malefícios do patriarcado na sociedade era diminuir a importância da opressão feminina ao afirmar que eles eram igualmente oprimidos. Procuraram destruir os estereótipos masculinos e reparar os danos psíquicos por eles causados. O resultado foi a criação da terapia masculina, que rapidamente gerou o movimento.

I think a fresh politics of masculinity will develop in new arenas: for instance, the politics of the curriculum, work around AIDS/HIV and anti-racist politics. I think it will require new forms, involving both men and women, and centring on alliance work rather than men’s groups. I think it will be far more internationalist than masculinity politics has been so far, contesting globalization-from-above as other democratic movements do. And in some sense it must be a politics beyond interests, a politics of pure possibility. Though that is, perhaps, another way of expressing the interest all people on this planet share in social justice, peace and balance with the natural world. (Connell, Robert. 1995:. 242)

Nos capítulos anteriores assistiu-se à apresentação do argumento político de Robert Bly e à análise da percepção desse argumento por parte dos media americanos. Neste capítulo introduzi os aspectos teóricos que considero fundamentais para a compreensão de toda a polémica gerada em torno da figura de Robert Bly e de Iron John. O capítulo seguinte apresenta a análise ao argumento de Bly e as motivações que o levaram a escrever Iron John.

Assim, gostaria de reter dois aspectos primordiais: primeiro que a masculinidade é uma noção fluida e situacional, havendo portanto que considerar as várias formas como as pessoas entendem a masculinidade numa determinada situação, e explorar a forma como as diversas masculinidades são definidas e redefinidas na interacção social. Este aspecto fundamenta a minha opção por Iron John, como sendo uma forma de definir a masculinidade baseada numa situação determinada, e aqui saliento o segundo aspecto: o men's liberation não pode ser o equivalente do women's liberation, dada a existência da assimetria. Há sempre uma tensão paradoxal que facilmente o transforma num movimento revanchista e reaccionário ao movimento feminista. É esta tensão paradoxal que me permite explicar porque até hoje (1998), passados quase 8 anos do lançamento de Iron John: A Book About Men, Robert Bly e este livro continuam a ser um tema polémico e actual no meio académico e nos media americanos.

 

 


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